Construção na Antártica

Introdução

Construir na Antártica constitui um grande desafio de engenharia. As distâncias envolvidas que demandam uma complexa cadeia logística; as condições climáticas rigorosas (ventos que superam 200km/h, temperaturas baixíssimas, solos congelados, sismos, etc); as restrições ambientais entre outros fatores interferem de forma direta desde a fase de projeto, onde são estudadas as melhores soluções de obra, até o planejamento detalhado da execução. Foram vários os passos percorridos até que o projeto pudesse ser materializado.

Realização de estudo de impacto ambiental

Por se tratar de uma área já impactada, foi feito um estudo, cuja análise foi efetuada pelo Grupo de Assessoramento Ambiental (GAAm), o qual faz parte da estrutura do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR).

Estudos foram feitos a partir de dados secundários e por pessoal com experiência na região da Baia do Almirantado e foi suficiente para identificar os cuidados necessários à preservação do meio ambiente e ecossistemas associados no local de realização das obras.

Estudo geológio-geotécnico

O projeto inicialmente foi elaborado a partir de estimativas feitas em relação ao tipo e estratificação do solo. Após a realização da prospecção geológica-geotécnica (fevereiro a março de 2014) por uma empresa de engenharia contratada por licitação, constatou-se que as premissas iniciais não estavam totalmente corretas, o que resultou na revisão do projeto das fundações, adotando blocos de concreto como fundações em substituição às estacas, como originalmente previsto.
Antes da execução da obra, no início de 2016, ainda foram feitos ensaios em placa com cargas (plate load test - PLT), os quais confirmaram os resultados obtidos na campanha de 2014.

Construção modular

Dadas as dificuldades logísticas, o espaço reduzido para o canteiro e a pouca disponibilidade de tempo para a execução das obras (limitada aos verões antárticos), a utilização de módulos pré-fabricados foi vislumbrada como uma alternativa de montagem mais fácil e mais rápida.

Dessa forma, os módulos foram produzidos fora do continente antártico e transportados para o local da construção com a maior parte dos serviços já executados, minimizando o tempo de montagem e a necessidade de mão de obra na região antártica. Foram utilizados contêineres de 20 ft high cube (HC) para a montagem dos módulos internos, o que facilitou tanto o transporte quanto a sua movimentação na obra. Além disso, a estrutura da estação foi produzida em dimensões que facilitassem as movimentações nas diversas fases de transporte e a montagem no local.

Logística para o transporte do material da obra

As fundações, os elementos da estrutura e os módulos tipo contêiner foram produzidos fora da Antártica. Após a pré-montagem da edificação, as peças foram desmontadas, identificadas e transportada para o navio que se encarregou de levar o material ao local da obra.

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O esquema adotado como premissa para o transporte do material do navio até a praia foi a utilização de balsas de pequeno porte, o que limitou o tamanho das peças a 12 m. Entretanto, durante a execução da obra, decidiu-se usar balsas maiores, o que permitiu a fabricação de parte dos módulos da estrutura com comprimentos maiores (cerca de 14 m), agilizando a montagem no local.

Outro ponto que merece destaque é a utilização na obra de uma plataforma temporária para atracação das balsas e para a operação de guindaste estacionado sobre ela, permitindo agilizar o desembarque do material no canteiro de obras na Antártica, além de reduzir o impacto ambiental provocado pelos diversos encalhes/desencalhes das balsas na praia.

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Pessoal

A fim de minimizar possíveis problemas de saúde, foi exigido dos funcionários envolvidos na construção a realização de exames médicos, apresentação de atestado de saúde e contratação de seguros de saúde e de vida.

Durante a obra houve variação na quantidade de estrangeiros presentes – de 22 funcionários, durante o inverno, e até 260 trabalhadores, durante o verão.

Diferenças culturais – hábitos alimentares, religião, ritmo de trabalho, rotinas de higiene, dentre outros – foram atenuados por meio da instalação de contêineres provisórios com alojamentos, cozinha e refeitórios exclusivos para os funcionários chineses.

A contratação de uma empresa internacional para execução do projeto exigiu a presença de intérpretes durante todo o período, pois mesmo durante o inverno foram feitas atividades na parte interna das instalações.

Execução das obras

A execução de obras no continente antártico é uma atividade complexa, que envolve uma grande quantidade de variáveis, levadas em consideração para que a construção do empreendimento pudesse transcorrer com o menor número de imprevistos.

Durante todo o período de construção, estiveram presentes engenheiros, fiscais de meio ambiente e de segurança, militares e outros especialistas necessários à execução da obra e à resolução de imprevistos.

Os trabalhos foram realizados em um ou dois turnos de oito horas, de acordo com o cronograma de atividades.

Reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz

Em 2013, a SECIRM, com o apoio técnico das Diretorias Especializadas da MB, iniciou o processo para a contratação do projeto de reconstrução da EACF. Após a conclusão do projeto executivo, foi iniciado o processo licitatório internacional para a contratação de empresa para a execução da obra. Em 31 de agosto de 2015, foi assinado o contrato com a empresa estatal chinesa China Electronics Import and Export Corporation (CEIEC), vencedora do certame. As atividades iniciais para a obra começaram neste mesmo ano.

A edificação principal da futura estação antártica será composta por três blocos:

1. O Bloco Leste será destinado às pesquisas, convívio e serviços da EACF. Nele estarão os 14 laboratórios, refeitórios, cozinha, setor de saúde, sala de secagem e oficinas;

2. O Bloco Oeste será o lugar privativo onde serão instalados, no nível superior, os 32 camarotes, biblioteca, ginásio e sala de vídeo/auditório e, no nível inferior, paióis de mantimentos e tanques de aguada e de combate a incêndio; e

3. O Bloco Técnico será a garagem e a praça de máquinas da estação, onde estarão localizados os geradores, quadros elétricos, caldeiras, estação de tratamento de água e esgoto, incinerador, entre outros.
A obra foi planejada para ser executada em quatro fases distintas e consecutivas, sendo duas de fabricação e pré-montagem na China e duas de montagem na Antártica.

A primeira fase foi concluída conforme planejado e, para a execução da fase seguinte, foram montados, em dezembro de 2016, no canteiro de obras na antártica, um alojamento para 72 pessoas e uma plataforma com guindaste, que proporcionou agilidade ao desembarque de material a partir do navio fretado pela empresa contratada.

Em seguida, foi realizada a montagem dos blocos de concreto pré-moldados que constituem as fundações da edificação principal, a qual obedeceu à seguinte sequência: escavação, preparação e regularização do leito, instalação da chapa base, montagem das peças de concreto e da cruzeta e reaterro. Essa fase foi concluída em março de 2017, ao término do verão antártico.

A terceira fase, realizada em Xangai, consistiu na fabricação e pré-montagem dos pilares, estruturas e contêineres que constituem os Blocos Leste, Oeste e Técnico, além dos Módulos Isolados. Essa fase foi concluída em novembro de 2017, após a desmontagem, catalogação e embarque dos diversos itens no navio, fretado pela contratada, com destino à Antártica.

A quarta fase foi executada em duas etapas:

A primeira etapa ocorreu de 25 de dezembro de 2017 a 31 de março de 2018, quando foram concluídas as montagens de 2/3 do bloco oeste, pilares e estrutura inferior do bloco leste, parcial da estrutura do bloco técnico e as unidades isoladas de telecomunicações, Meteorologia e VLF.

De abril a outubro de 2018, todo o material necessário para o término da obra ficou armazenado em Punta Arenas, Chile.

A segunda etapa teve início com o retorno do navio Magnólia, fretado pela CEIEC, em Ferraz no dia 8 de outubro de 2018 e iniciou os seguintes trabalhos, neste verão antártico:
a) O término da montagem do prédio principal composto pelos blocos Leste, Oeste e Técnico; e
b) Conclusão dos módulos isolados: de telecomunicações, de Meteorologia/Ozônio, de VLF, lavagem de sedimentos, de mergulho e paiol de resíduos perigosos.

Nessa fase trabalharam na reconstrução 263 operários da CEIEC e 7 fiscais designados pela SECIRM, sendo 5 Engenheiros Navais da Marinha e 2 do IBAMA, com o apoio do Grupo Base (GB) composto de 16 militares.

Os testes, o treinamento e o comissionamento dos diversos sistemas da nova EACF estão previstos para ocorrerem no verão 2019/2020.
A inauguração da EACF está prevista para janeiro de 2020.

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