Estaleiro de Salvador
O primeiro estaleiro organizado no Brasil foi a “Ribeira das Naus”, fundado oficialmente na cidade de Salvador, no final do século XVI. Foi o mais importante centro de construção do Brasil, durante o período colonial. Sua criação formal foi feita pelo Governador-Geral do Brasil, D. Francisco de Souza, que governou entre 1590 e 1602.
No entanto, já existia desde o governo-geral de Tomé de Souza, entre 1549 e 1553, que trouxe para o Brasil artífices especializados em construção de embarcações. Essa equipe contava com um mestre de construção, carpinteiros navais, calafates e um ferreiro.
O estaleiro enfrentou o descontentamento da indústria açucareira da época, que receava que viesse a ocupar a mão de obra de carpinteiros, provocando alterações de preços dos serviços ou até a falta de profissionais para realizar o trabalho nos engenhos.
“Apesar dessas dificuldades, o estaleiro de Salvador desenvolveu-se rapidamente, tornando-se o mais importante centro de construção naval do Brasil durante todo o período colonial, e mesmo até meados do século XIX. Estava localizado à orla marítima da cidade, em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde hoje se encontram a Capitania dos Portos da Bahia (…); a partir de 1770, e até sua extinção, em 1889, foi denominado Arsenal de Marinha da Bahia” (TELLES, 2001).
Um Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro
Foram inúmeras as iniciativas para desenvolver a Construção Naval Militar no Brasil. Um marco nessa história, e que representou um grande impulso para a atividade, foi a instalação de um arsenal no Rio de Janeiro.
Com a descoberta de ouro e prata na região das Minas Gerais, no final do século XVII, uma intensa migração ocorreu para a região de exploração dos minérios. E a forma mais fácil de escoar a produção era pelo porto do Rio de Janeiro, considerando que a rota para Salvador era muito mais difícil. A logística envolvida no ciclo do ouro acabou deslocando o eixo econômico da colônia para a região centro-sul.
A mudança formal do eixo político da colônia decorreu da decisão do rei de Portugal, D. José I, de transferir a capital do governo português no Brasil, em 1763, de Salvador para o Rio de Janeiro. O primeiro Vice-Rei a administrar o Brasil colônia no Rio de Janeiro foi D. Antônio Álvares da Cunha, Conde da Cunha, entre 1763 e 1767. Dentre outras ações para fortalecer militarmente a possessão portuguesa na América do Sul, construiu um Arsenal de Marinha, naquele mesmo ano, situado na praia de São Bento, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Como atividade inicial do novo estaleiro, o Conde da Cunha decidiu pela construção de uma Nau, que recebeu o nome de “São Sebastião”, também apelidada de Nau Serpente, em função de sua proa possuir a figura de um dragão, e veio, depois de pronta, prestar serviços por longos anos à Armada Portuguesa. Depois da Nau, lançada ao mar em 1767, a atividade principal do Arsenal foi o reparo e a manutenção dos navios da esquadra real e dos que aportavam no Rio de Janeiro.
A chegada da Família Real ao Brasil
Em 1808, com a chegada do Príncipe Regente D. João e da Rainha D. Maria I ao Brasil, o Rio de Janeiro tornou-se a capital do Reino de Portugal, o que lhe trouxe um relevante progresso. Apesar do poderio da Marinha Portuguesa estar em declínio, a capacidade do Arsenal foi ampliada para apoiar a Esquadra, sediada no Rio de Janeiro. Foi nesse período que o Arsenal passou a ser chamado de Arsenal Real da Marinha ou Arsenal da Corte.
No período entre 1865 e 1890, o Arsenal da Corte viveu seu apogeu, quando alcançou nível de desenvolvimento similar aos maiores estaleiros do mundo àquela época.
Duas novas carreiras de construção foram erguidas na ilha das Cobras, em 1865, onde foram construídos navios encouraçados e monitores, que acabaram por se destacar na campanha brasileira na Guerra do Paraguai. Outros tantos navios também foram construídos nesse período áureo, como bombardeiros, cruzadores, corvetas, rebocadores e canhoneiras.
Outros arsenais e estaleiros foram criados no Brasil, durante os seus períodos como colônia e império, destacando-se os instalados no Pará (foto), Bahia, Mato Grosso, Alagoas, Santos, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Maranhão.
O Arsenal da Corte passou a se chamar Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), enfrentando de início, porém, um período de redução de suas atividades. A partir de 1920, começou a se expandir mais vigorosamente para a Ilha das Cobras. Em 1938, passaram a coexistir dois arsenais: AMRJ e Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras. Por fim, a partir de 1948, apenas as instalações industriais insulares permaneceram em funcionamento, sob a denominação de Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, que perdura até os dias atuais.
A Proclamação da República
Com a Proclamação da República, resolveu-se concentrar no Rio de Janeiro, então capital federal, a capacidade construtiva naval militar, extinguindo-se os demais arsenais.
O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro se encontra em destaque por ser a principal Organização Militar envolvida na condução da Construção Naval Militar do Brasil, sendo o mais expressivo nascedouro de navios de nossa Marinha,
como também o porto seguro para os principais reparos e manutenções necessários aos nossos meios navais.
Atualmente, o Arsenal tem finalidade de realizar as atividades técnicas, industriais e tecnológicas relacionadas à construção de unidades de superfície e à manutenção dos Sistemas de Propulsão Naval, Geração de Energia, Estrutura Naval e Controle de Avarias dos meios navais.