DEPOIMENTO

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LUCIANO CANDISANI

"A vida no mar é controlada pelos elementos, pela natureza. Gosto dessa sensação, ela me faz ter mais esperança num futuro melhor para os últimos grandes espaços naturais da Terra, lugares onde a natureza ainda dita totalmente o ritimo da vida."

Sou fotógrafo e meu tema é a natureza. Trabalho para revista National Geographic em reportagens que buscam revelar a ligação das espécies - incluindo a humana - com seu habitat natural nos grandes espaços naturais do planeta.

Sempre tive uma forte ligação com a água e foi no mar que dei os primeiros passos no que se tornaria minha profissão, em 1985. Na época, influenciado pelas fotografias da National Geographic e pelos filmes de Jacques Cousteau, tirei uma licença de mergulho, consegui uma câmera anfíbia e comecei a registrar o fundo do mar entre Ilhabela e Angra dos Reis.

Mais tarde entrei na faculdade de biologia, na Universidade de São Paulo, e fui trabalhar no Instituto Oceanográfico, como estagiário. Ali, tive as primeiras chances de ingressar profissionalmente na fotografia, pois os laboratórios precisavam de fotografias submarinas e eu já sabia como fazer.

Virei um fotógrafo de expedições científicas. E isso me levou, em 1995, à minha primeira viagem a Antártica a bordo do navio de apoio oceanográfico “Ary Rangel”, da Marinha do Brasil. Fiquei 3 meses fotografando a vida submarina na Baía do Almirantado. Esse trabalho, inédito na época, rendeu as primeiras publicações importantes e abriu o caminho que me trouxe até a National Geographic.

Na memória, guardo muitos momentos marcantes das minhas viagens pelos oceanos: na ilha de Trindade, vi o “raio verde” descrito por Julio Verne, numa manhã quando saia da barraca, na praia das tartarugas. Na Patagônia, mergulhei nas florestas de algas gigantes, com mais de 15 metros e na Antártica mergulhei sob o mar congelado. Em Galápagos, mergulhei com as criaturas que inspiram Darwin e nas Filipinas convivi com populações que tiram totalmente o sustento do fundo do mar. Mas, talvez, a experiência no Atol das Rocas tenha sido a mais intensa. Essa ilha, isolada no Atlântico, é um desses raros lugares onde a vida humana ainda é totalmente regida pelos elementos. Não tem água doce e as caminhadas dependem do horário da maré. Banhos, só de mar, e toda a energia vem de um painel solar. Não há estrutura alguma para o ser humano que represente impacto negativo ao ambiente. É uma sensação muito boa.

Lugares assim, como o Atol, ensinam que é fundamental a nossa mudança de comportamento em relação ao mar e a natureza em geral. Precisamos aceitar que nosso modelo de produção e consumo tem que levar em consideração os limites impostos pelo ambiente. Os oceanos abrigam boa parte da diversidade de vida do Planeta, essa é a grande riqueza imersa em suas águas.



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